segunda-feira, julho 17, 2006

Réquiem

Fala, galera.
Este domingo (16/07) foi um dia um pouco complicado, devido à noite anterior que foi mais complicada ainda. Nos finais de semana meu metabolismo sofre algumas alterações que se refletem durante toda a semana.
No sábado (15/07), acordei cedo, vim pro micro e resolvi desenhar alguns projetos que havia fechado na sexta anterior. Desenhei um pouco, fui pra janela ver as crianças brincando, tomei uma cervejinha antes de almoçar e dormi, acordei por volta de 18h e fiquei preocupado, sabia que não dormiria novamente tão cedo. E foi o que aconteceu, eram 6h da manhã do domingo (16/07) e eu ainda não havia pregado os olhos, estava agitado com os problemas financeiros (eles nunca acabam) e com os problemas familiares, afinal meu pai tava internado e em estado grave, vitimado por uma varize que havia estourado em seu esôfago.
Às 6h12min, o celular tocou, era minha irmã me comunicando o falecimento do meu pai, recebi a notícia tão calmamente que até fiquei espantado, levantei (já que não iria mais dormir mesmo) e me preparei pra dar meu último adeus ao velho (nem tão velho assim, ele tinha 58 anos).
Comuniquei a notícia aos vizinhos mais próximos (são os mesmos que ficam perambulando pelas ruas comigo quando acordo cedo), conversei um pouco com eles e parti pro velório, ainda sem sair da cidade, fui interrompido pela minha família daqui (meus vizinhos), que me informavam que não me deixariam sozinho nesta empreitada, iriam comigo ao velório e sepultamento.
Voltei pra casa, me encontrei com os vizinhos,fui conversando e brincando com eles até chegar ao velório, estava tranqüilo, parecia que uma onda de serenidade havia se apossado de mim, mas (sempre tem um “mas”), ao deparar com o mesmo cara que conheci há 33 anos atrás, deitado num caixão, usando a mesma roupa que ele havia pedido pra usar nesta ocasião, foi demais pra mim.
Me senti aliviado ao descarregar meu estoque anual de lágrimas (me lembro de ter chorado há alguns anos atrás, então eu estava com superávit de lágrimas). Sabe o que acontece nestes momentos? As lágrimas saem automaticamente, não precisam de nenhum outro tipo de estímulo.
É impressionante como a minha memória, que eu julgava decrépita e ineficiente, se mostrou ativa e altamente detalhista ao relembrar alguns momentos que eu achava esquecidos.
Lembrei de quando peguei dinheiro com ele pra levar minha ex-esposa (na época era namorada) ao cinema (1989); de quando rimos despreocupados numa mesa posta em sua casa com alguns amigos meus que, apesar de pouco conhecer, ele tornou seus (1997); de quando ele me levou pra fazer curativos em meu pé recém-operado (1984); de quando meu irmão mais velho pediu a ele permissão pra se matricular em um curso de informática e ele sugeriu que fosse investido dinheiro em alguma coisa mais segura, tipo datilografia (1985); de quando ele assumiu os deveres da casa após o falecimento da minha mãe (1990); de quando ele reclamava ao ouvir os discos de vinil com os sucessos do rock dos anos 80 (“Isso não é música” – esbravejava) (1984, 1985, 1986, 1987, etc); e de quando o vi pela última vez no leito do hospital, entubado e com os olhos e a pele amarelados, devido à grande quantidade de sangue que perdeu durante a crise que culminou em sua internação (12/07/2006).
Estava me sentindo muito à vontade ao chorar no velório, desciam pelos meus olhos agradecimentos por tudo o que ele passou pra encaminhar todos os filhos, o ponto onde chegamos era muito mais do que ele poderia supor, em sua humilde imaginação.

Descanse em paz, Velho.
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Não esperem analogias ao Dagomir Marquezi, ao Sérgio Porto, ao Josias de Souza ou ao Angeli, estou com MUITA vontade de chorar.Abraços a todos.

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